terça-feira, 5 de março de 2013

A inocente face do terror

Memorial feito ao índio

“Não há motivos para pensar o contrário. Os cinco garotos que atearam fogo a Galdino Jesus dos Santos, um índio pataxó de 45 anos, são normais. Provavelmente tem pais preocupados com os filhos e tiveram a educação que qualquer garoto de classe média ou rica tem no Brasil. Vão à escola; fazem ginástica ou qualquer outro esporte; gostam de rock; de moto; marca de carro; discutem quem é mais rico do quem; falam de computadores; Passeiam na Flórida, em NY ou na Europa. Se fizeram o que fizeram é porque lhe ensinaram, na prática e não no discurso, que um índio não é como eles, não é um igual em humanidade. 

Os garotos não são monstros, simplesmente não sabem mais distinguir entre o que é ou não monstruoso, pois foram educados num tempo em que o horror perdeu seus aspectos extraordinários. Não por ‘culpa’ da mídia, como se acostuma dizer. A mídia forma hábitos, é claro. 

(...) O que estamos fazendo com nossos filhos? Por Deus, o que estamos fazendo com garotos que tinham para ser diferentes e se tornarem frios e brutais candidatos a assassinos, por nossa estupidez? 

(...) Que me perdoem os leitores exigentes. Não dá para fazer análise acadêmica quando a atrocidade chega a esse nível. Crueldade gratuita é o limite extremo da barbárie. Estes garotos, repito, não são monstros. Eles simplesmente vêm sendo descerebrados e transformados em bocas, narizes ou braços para a entrada de drogas; corpos desumanizados e reciclados como cabides para artigos de moda. (...) Vamos mudar, antes que seja tarde. Vamos ensinar o mundo num lugar de solidariedade, amizade e alegria”.

 Jurandir Freire Costa, Razão públicas, emoções privadas. Rio de Janeiro, Rocco, 1999. P. 90-92.

Um comentário:

Raony disse...

Interessante,só achei ingênua a última parte — mais especificamente: "Vamos mudar, antes que seja tarde. Vamos ensinar o mundo num lugar de solidariedade, amizade e alegria”. — Ainda mais especificamente: "lugar de solidariedade, amizade e alegria"... Me parece até propaganda da antiga Alemanha Oriental...